Por Sarah C.P. Williams • Ilustração por Anna Zoladz '16 • Fotografias por Steve Wood Durante 10 anos, Gail De Sciose sentiu que a dor controlava as suas atividades, a sua agenda, cada movimento seu. Ela deu por si muitas vezes caída no chão da sua casa em Birmingham, com fortes dores irradiadas do pescoço, pelas costas e quadris. Foi uma mudança abrupta da vida vibrante que ela tinha em Nova Iorque, onde trabalhou como gerente de vendas, viajou por todo o país, e era voluntária num abrigo para animais. "Parecia que um ferro quente estava a ser arrastado pelo meu corpo", recorda De Sciose. E a dor era acompanhada por uma fadiga debilitante; De Sciose lembrasse de adormecer no meio de conversas. "Houve momentos em que simplesmente não conseguia funcionar", diz ela. "Eu tive que cancelar idas ao teatro, férias e almoços com os amigos." De Sciose é uma dos cinco milhões de americanos e mais de 200.000 cidadãos do Alabama com fibromialgia, um transtorno caracterizado por dor generalizada que dura há pelo menos três meses e não pode ser atribuída a qualquer causa definitiva. Mas um diagnóstico de fibromialgia não leva a uma cura. Anos depois de ter um nome para os seus golpes de ferro quente, De Sciose continuou com dor, e isso não é incomum: Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças destacam estudos que mostram que pacientes com fibromialgia avaliam a sua qualidade de vida mais baixa do que os pacientes com outras doenças crónicas, e têm três vezes e meia mais hipóteses de desenvolver depressão do que aqueles sem o transtorno. No entanto, essas respostas podem estar à beira de mudar. Na University of Alabama at Birmingham, Jarred Younger, Ph.D., espera estabelecer o primeiro centro de pesquisa e tratamento clínico do Alabama especializado em fibromialgia e condições relacionadas, incluindo a síndrome da fadiga crónica e Doença do Guerra do Golfo. Para já, a pesquisa de Younger, e da sua equipa no novo Laboratório de Neuroinflamação, Dor e Fadiga da UAB, revelou possíveis causas para os transtornos e apontou para tratamentos que estão a ajudar a aliviar a dor e fadiga – sem efeitos colaterais – em pacientes. O trabalho de Younger "é realmente de ponta; é inovador ", diz David McLain, M.D., um reumatologista de Birmingham que trata a doença e muitas vezes colabora com investigadores da UAB. "Ele é responsável pela abertura de uma nova via de tratamentos, e é uma sorte ter vindo para a UAB." Uma Solução Cerebral Younger, um professor associado recrutado para a UAB College of Arts and Sciences Departament of Psychology em 2014, tornou-se interessado na fibromialgia e síndrome da fadiga crónica como um pós-bolseiro da escola de medicina da Universidade de Stanford. Ele estudava a dor de forma mais ampla, quando percebeu os quão pouco compreendidos esses transtornos eram. "Os pacientes são totalmente afetados", diz Younger. "Alguns costumavam ser atletas, alguns costumavam ser donos de empresas, e, de seguida, as suas vidas foram-lhes retiradas." Ele refere que, muitas vezes, os pacientes visitam médico após médico, apenas para ser dito, repetidas vezes, que eles são saudáveis e que a dor ou fadiga é tudo das suas cabeças. Younger, juntamente com muitos outros investigadores e clínicos, acreditavam o contrário. "Eu fiz da minha missão descobrir o que está errado com esses pacientes e como tratá-los", diz ele. Como pós-doutorado de Stanford e membro do corpo docente, Younger liderou estudos que pesquisavam moléculas imunes no sangue. Ele centrou-se numa determinada proteína chamada leptina, libertada pelo tecido adiposo, que aparece em maior quantidade no sangue de pacientes com fadiga crónica. Na verdade, Younger podia até mesmo avaliar a gravidade dos sintomas do dia-a-dia de um paciente apenas rastreando seus níveis de leptina. Estas descobertas iniciais estimularam-no a continuar a investigar moléculas imunes inflamatórias e a começar a olhar para o papel do cérebro nas doenças. A leptina tem a capacidade de atravessar a barreira sangue-cérebro e afeta as células neurais, causando dor e o cansaço. Mas, exatamente como isso acontece ainda é um mistério. Younger pensa que tem algo a ver com a micróglia, um tipo de célula imunológica encontrada no cérebro que normalmente ajuda a proteger os neurónios. "A micróglia defende o nosso cérebro contra tudo", explica Younger. "Quando apanhamos uma gripe, por exemplo, as micróglias são ativadas. Estas células fazem-nos querer rastejar na cama e não fazer nada, para que o nosso corpo possa dedicar os seus recursos para lutar contra a gripe." Em ambos os pacientes com fadiga crónica e fibromialgia, Younger coloca a hipótese, de as micróglias estarem ligadas quando não é suposto estarem, causando fadiga ou dor, um estado depressivo, e disfunção cognitiva. Na UAB, ele está a planear estudos de acompanhamento para ajudar a encontrar provas que sustentem esta ideia. No entanto ele enfrenta um desafio crucial: atualmente, não há métodos disponíveis para olhar diretamente para a ativação ou inflamação da micróglia em seres humanos vivos. Mas Younger e os seus colegas estão a trabalhar em soluções, incluindo exames cerebrais especializados que medem a temperatura do cérebro ou a presença de certos químicos. “Só muito recentemente que as pessoas estão a começar a explorar o que sintetiza a micróglia," diz Younger. "As células podem estar em estado calmo, útil, ou num estado bélico ativo." Ele espera que as suas descobertas ajudem a revelar a diferença. Pequenos Ganhos, Grande Impacto Ao mesmo tempo que Younger começou a estudar as vias subjacentes da inflamação, também começou a investigar a medicina alternativa e tratamentos não oficiais que tinham sido usados por pacientes com fadiga crónica e fibromialgia. Em 2009, ele relata pela primeira vez a eficácia de baixa dose de naltrexona - uma droga normalmente usada para tratar viciados em opiáceos e álcool. As mulheres que tomaram 4,5 miligramas da droga, por dia, relataram menos dor ao longo das semanas que as receberam. Curiosamente, a naltrexona está ligada a outros estudos de Younger: a droga é conhecida por parar a micróglia ativada de produzir substâncias químicas inflamatórias. De Sciose - que tinha resistido a tomar medicamentos para fibromialgia durante todo o curso da sua doença por causa dos efeitos colaterais que a maioria pode causar - ouviu falar sobre as baixas doses de naltrexona por um amigo em 2012, pouco depois de Younger ter publicado os resultados do seu segundo, e maior estudo da droga. A ciência por trás parecia música para os seus ouvidos, diz ela, e os estudos de Younger tinham revelado poucos efeitos colaterais. Então ela começou a tomar uma dose diária de naltrexona prescrita pelo seu médico. "Eu não tinha nenhuma expetativa; ouvimos muito sobre drogas milagrosas ", diz De Sciose. "Mas dentro das primeiras duas ou três semanas, eu parei de ter essa dor-ferro em brasa diária. Então, um mês depois, diferentes massagistas disseram que os meus músculos estavam muito melhores. " Hoje, De Sciose não diria que está curada da fibromialgia, ela ainda tem de ter atenção aos seus níveis de atividade para evitar crises. Mas pode fazer planos novamente -almoços, idas ao teatro, e viagens - sem se preocupar se vai acabar esparramada no chão todas as noites. "Qualquer pequeno ganho na redução da dor ou qualidade de vida é muito importante para mim", diz ela. Cadeia de Eventos As descobertas de Younger sobre a leptina, micróglia, e naltrexona já começaram a mudar o rumo da pesquisa e do tratamento da fibromialgia e fadiga crónica. Mas o seu trabalho está apenas a começar, diz ele. "É essencial que tenhamos uma compreensão mais completa do que está errado antes de sermos capazes de encontrar melhores tratamentos", diz Younger. Então, enquanto ele está realizar mais estudos sobre baixas doses de naltrexona - bem como outros compostos, incluindo o tempero açafrão-da-terra, que são conhecidos por afetar a micróglia - ele está a dirigir os esforços do Laboratório de Neuroinflamação, Dor e Fadiga, para descobrir os mecanismos por detrás das doenças. Ele gostaria de entender o que desencadeia um aumento na produção de leptina, o que a leptina ativa, e o que aciona a micróglia. Ele também quer saber como tudo se conecta. "Há uma cadeia de eventos, e nós não sabemos onde a leptina se situa nessa cadeia", diz ele. "Assim, começamos com um pedaço do quebra-cabeça e começamos a olhar em ambas as direções." Para os pacientes, ter uma peça do quebra-cabeça pode ser encorajador. "Estes pacientes não são bem compreendidos," diz McLain. "As suas famílias e muitas vezes os seus médicos acham que eles são preguiçosos ou inventam os seus sintomas. Ser capaz de dizer: “aqui está um pouco da ciência por detrás da minha doença ", certamente, os torna mais esperançosos." Younger, também, está satisfeito com os pequenos avanços até agora, mas diz que o tratamento da síndrome da fadiga crónica e da fibromialgia está a uma ou duas décadas atrás de outras doenças inflamatórias. "Há vinte anos atrás, a artrite reumatoide destruía absolutamente os corpos das pessoas, e não havia muito que podia ser feito sobre isso", diz ele. "Com o tempo, os investigadores descobriram as partes do sistema imunitário que estavam envolvidos, e isso ajudou a desenvolver melhores tratamentos." Se o cronograma de Younger for válido, então o alívio pode estar no horizonte para os pacientes que suportam a dor, fadiga e outros sintomas todos os dias. "Eu sinto-me otimista que possa acordar algum dia no futuro e ser capaz de me sentir ainda melhor e mais forte do que me sinto agora como resultado de uma pesquisa e de um tratamento futuro", diz De Sciose. Nota da tradutora: A naltrexona é comercializada em Portugal, e tal como refere o artigo acima traduzido e de acordo com o Infarmed, é um antagonista opiáceo o que significa que bloqueia os efeitos das drogas opiáceas. Estas atuam sobre certos "locais" do cérebro conhecidos como "recetores opiáceos". A naltrexona ocupa estes recetores sem os ativar. Para mais informações contacte o seu médico assistente. Traduzido por Fátima Figueiredo - APJOF Fonte: https://www.uab.edu/uabmagazine/features/prisoners-of-pain
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