Nos primeiros anos após o diagnóstico da Fibromialgia, não me interessei em saber no que realmente consistia. Nunca ouvira aquela palavra nem conhecia ninguém que sofresse da mesma. As dores eram atenuadas pela fisioterapia e analgésicos. E assim passaram os primeiros 5 anos. Ignorei-a de tal maneira que a única forma que teve de se tornar “visível” foi causar-me crises de dor durante meses seguidos. Consultei médicos de várias especialidades à procura de uma solução…de outro diagnóstico. Exames e mais exames… Fibromialgia! Todos os médicos diziam:” tem de aceitar a doença para melhorar.” Mas aceitar? Aceitar o quê? A dor? Como? Não conseguia compreender o que eles queriam dizer com aquela frase… E prescreviam-me antidepressivos. Não compreendia porque raio é que os médicos queriam que tomasse um antidepressivo! Eu não estava com depressão! Eu tinha dores no corpo! Comprava os medicamentos, lia a bula e ficava aterrorizada com os efeitos secundários. Não os tomava. Experimentei terapias alternativas e suplementos alimentares. Chegava a gastar entre 500 a 700 euros por mês, sempre com a esperança de que ia conseguir encontrar algo que resultasse! Tinha que haver! Mas nada resultou. Perguntava porquê, que mal tinha feito, porque é que não as dores não passavam, qual seria o meu futuro… As dores insuportáveis, a ansiedade de um futuro incerto, os ataques de pânico…tudo se transformou numa bola de neve, que desmoronou numa grave depressão. Não conseguia acreditar que estava com uma depressão! Eu? Sempre me vi como uma mulher de garra, de carácter bem vincado…uma verdadeira “mulher do norte”. Contudo a minha personalidade perfeccionista, determinada, ligeiramente obsessiva e controladora não estava a ajudar. Caíra num poço e não consegui ver o fundo. Foram meses angustiantes. Não sabia se tinha força para me reerguer. Já não sabia quem eu era. A mulher que acreditava ser já não existia… Aos poucos e poucos fui-me restabelecendo graças à psicoterapia, à medicação, ao curso de Reiki, à meditação e ao apoio incondicional do meu marido e dos amigos mais íntimos. Realmente existem “males que vêm por bem” e a depressão ensinou-me a Viver. Compreendi finalmente o que os médicos queriam dizer. Aprendi a aceitar as limitações que a doença impõe ao meu corpo. Aprendi a ouvi-lo, a respeita-lo. Se tivesse diabetes ou asma nunca questionaria a doença. Porque fazê-lo só porque tem outro nome? Mudei a minha filosofia de vida. Hoje sou mais eu e sei o que realmente me faz feliz: poder ajudar os outros. Pode não encher a conta bancária mas enche-me o coração…a vida! Sei que não posso controlar o amanhã nem as acções dos outros. As situações não se vão alterar por me sentir preocupada ou stressada. Na minha vida estão presentes só as pessoas que me apoiam, ajudam e amam. Às outras desejo que sejam felizes. Libertei-me de muitos pensamentos e energia negativa. Abri a janela. Deixei o Sol entrar. E gostei tanto que repito isso todos os dias… As dores não passaram…Estou medicada e vou suportando-as melhor. Dou o meu melhor todos os dias, mesmo quando isso não é como eu gostaria, mas sim o que consigo dar…mas faço-o em plenitude, sinceridade e sem culpas… Antes da doença achava que sabia o que queria. Mas agora sei que não era verdade. O renascer da depressão mostrou como me transformar de lagarta em borboleta! Sou mais feliz! Vivo o dia de hoje. Vivo o “agora”. Com gratidão.
1 Comment
Rosa Torres
8/12/2015 08:04:18 pm
Olá Fátima, essa é tb a minha história sobre a fibromialgia, só que com muitos mais anos de sofrimento, outras doenças, cirurgias, depressão profunda, 4 anos de terapia em psiquiatria e 2 terapeutas, muita fisioterapia, muitos anti depressivos, muito choro,muita falta de entendimento por parte da família e amigos ou conhecidos, para os outros eu não estou doente mas sim maluca e sou preguiçosa, questiono-me: porquê eu...?... Não consigo aceitar a doença, sofro todos os dias, tenho crises agudas recorrentes, moral da história, não tenho nenhuma qualidade de vida e não me apetece viver deste modo.
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Sobre as "Crónicas de Fibra"Originalmente este blog continha textos sobre Fibromialgia e não só, escritos pelas administradoras do site. CategoriasArquivos
September 2016
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