Pela acção hormonal no ciclo menstrual, o endométrio sofre um processo cíclico de regeneração e descamação. Esta descamação provoca a menstruação e com ela são recicladas as glândulas e o estroma que compõem o endométrio.
Quando as células que compõe o endométrio se encontram fora da parte interna do útero, implantando-se noutros locais (peritoneu pélvico, ovários, recto, bexiga, apêndice, intestinos, diafragma, etc.) dá-se o processo de Endometriose. Os casos particulares, mas menos frequentes, estão relacionados com Endometriose à distância, em órgãos fora da cavidade abdominal, tal como o pulmão, o nariz ou a pele. Isto em si não é doloroso, mas durante a menstruação, as ondas de tecidos e consequente pressão sobre órgãos e alongamento dos ligamentos na área pode ser muito doloroso. Esse tecido inchado também pode levar a outros problemas na região pélvica. Muitas mulheres que sofrem de Endometriose, eventualmente, têm de parar de menstruar, o que provoca um desequilíbrio hormonal adicional e não diminui o inchaço do endométrio em crescimento fora do útero. A causa exacta da endometriose não é conhecida, no entanto subentende-se que a migração das células do endométrio fora do útero assim se iniciam. Para a maioria das mulheres, a endometriose tem começo logo após a menarca, ou dentro de poucos meses de após ter a primeira menstruação após a cirurgia ou parto por cesariana. Os principais sintomas da Endometriose são dor e infertilidade. Aproximadamente 20% das mulheres sentem apenas dor, 60% têm dor e infertilidade, e 20% apenas infertilidade. Existem mulheres que sofrem dores incapacitantes e outras que não sentem nenhum tipo de desconforto. Entre os sintomas mais comuns estão: • Cólicas menstruais intensas e dor durante a menstruação; • Dor pré-menstrual; • Dor durante as relações sexuais; • Dor difusa ou crónica na região pélvica; • Fadiga crónica e exaustão; • Menstruação intensa ou irregular; • Alterações intestinais ou urinárias durante a menstruação; • Dificuldade para engravidar e infertilidade. A dor da Endometriose pode se manifestar como uma cólica menstrual intensa, ou dor pélvica/abdominal durante a relação sexual, ou dor “no intestino” na época das menstruações, ou, ainda, uma mistura desses sintomas. A Endometriose ainda é uma doença difícil de diagnosticar por meio de exames físicos, ou seja, realizados durante a consulta ginecológica de rotina. Dessa forma, os exames de imagem que são mais adequados para indicar a possível existência do problema, que será confirmado posteriormente por meio de exames laboratoriais específicos como a dosagem de marcadores tumorais etc. Os exames mais frequentes para diagnosticar a Endometriose são: Ecografia e Ressonância Magnética. Em caso de Endometriose grave: Citoscopia, Rectosigmoidoscopia, clister opaco e Uro-TAC-. Dois tipos de tratamento que podem ser utilizados para combater as dores da Endometriose: medicamentos ou cirurgia. Cada um deles têm suas especificações, e cabe ao ginecologista avaliar a gravidade da doença em cada caso e recomendar o melhor tratamento. Vale lembrar que, dependendo da situação, ambos os procedimentos são feitos de forma integrada. É importante compreender que não existe cura permanente para a Endometriose. O objetivo do tratamento é aliviar a dor e atenuar os outros sintomas, como favorecer a possibilidade de gravidez e diminuir as lesões Endometrióticas. Uma cirurgia que muitas vezes é erradamente utilizada para diagnosticar a Endometriose é a Laparoscopia. É a intervenção cirúrgica que vai ajudar a eliminar os focos da doença, nada mais. E, é de frisar, que a gravidez não cura a Endometriose.
Entrevista para o Diário da Manhã do Dr António Setúbal, ginécologista e obstetra.
(Entrevista de 2012)
As mulheres que têm Endometriose estão mais propensas a ter Fibromialgia?
Um estudo de 2002 com investigadores do National Institute of Child Health and Human Development (NICHD), George Washington University, e a Endometriosis Association descobriram que as mulheres com Endometriose são mais propensas a ter Síndrome de Fadiga Crónica e sofrer de Fibromialgia. O Dr. Ninet Sinaii, do NICHD Pediatric and Reproductive Endocrinology Branch, e os seus colegas analisaram informações de um levantamento de 1998 dos membros da Endometriosis Association. Os investigadores centram-se nas 3.680 mulheres que disseram que tinham sido diagnosticadas cirurgicamente com Endometriose. Os autores do estudo compararam a probabilidade de mulheres com Endometriose ter uma variedade de distúrbios, para a probabilidade das mulheres da população em geral ter essas mesmas condições. Estes incluíram:
As mulheres do estudo tinham mais de cem vezes probabilidade de sofrer de Síndrome de Fadiga Crónica do que a população geral de mulheres norte-americanas. As mulheres com Endometriose eram mais de duas vezes propensas que as outras mulheres a sofrer de Fibromialgia. Além disso, 20% tinham mais outra doença, e 31% das mulher com mais de uma doença também haviam sido diagnosticadas com Fibromialgia ou Síndrome de Fadiga Crónica. "Estes resultados sugerem uma forte associação entre a Endometriose e doenças autoimunes e também entre a Síndrome de Fadiga Crónica e a Fibromialgia", disse o Dr. Sinaii. "Os profissionais de saúde devem considerar a endometriose ao avaliar as suas pacientes quando padecem destas patologias." Um outro estudo de 2013 encontrou ligações entre o início precoce da menopausa e aumento o da sensibilidade da dor em pacientes com Fibromialgia, sugerem que possa relacionar-se com o cair dos níveis de estrogénio. Um estudo mais recente que encontrei, deste verão (2015) concluiu que a maior parte das mulheres que tiveram de fazer alguma cirurgia ginecológica, mais tarde desenvolveram Fibromialgia. Talvez devido às alterações hormonais que estas cirurgias causam... Mas como ainda não se sabe como as hormonas influenciam a Fibromialgia, mais estudos têm de ser feitos. E como sabem estes estudos são muito generalizados, não é certo que quem fez cirurgia ginecológica virá a ter “obrigatoriamente” Fibromialgia. As mulheres que sofrem com Fibromialgia estão mais propensas a desenvolver Endometriose? Pelas minhas pesquisas não encontrei nada que dissesse que as mulheres com Fibromialgia estão propensas a desenvolver Endometriose. Na minha opinião pessoal acho que não, pois a Fibromialgia não causa problemas ginecológicos, menstruais e em termos hormonais ainda há muitos estudos a fazer. O que se sabe até agora é que a Fibromialgia é um desequilíbrio no Sistema Nervoso Central, e não sabemos que impacto isso tem para outros sistemas no nosso corpo.
JV - Como e quando surgiu a ideia de criar a associação MulherEndo?
SF - Esta associação existiu primeiro enquanto grupo de apoio, durante 3 anos. Só após este tempo consegui reunir as pessoas e os meios monetários para constituir a associação. A ideia surgiu no dia em que obtive o meu diagnóstico. Depois de 14 anos e 7 médicos, achei que era inaceitável outras mulheres terem de passar pelo mesmo. Comecei sem pretensões, com um blogue pessoal, depois criei um fórum e tudo foi surgindo muito lentamente. JV - Quando nasceu a Associação e onde a podemos encontrar? SF - A Associação nasceu a dia 6 de Dezembro de 2013. Neste momento ainda na\o temos os meios nem as ajudas necessárias para ter uma sede física. Fazemos todo o nosso trabalho online ou por telefone e quando necessário combinamos as nossas reuniões em locais públicos ou outros. JV - Quais são os objectivos da MulheEndo? SF - A MulherEndo tem por objetivo principal promover e fomentar o apoio, a reabilitação e/ou recuperação física e psicológica da mulher com Endometriose através da informação e cooperação direta. Pretendemos: Apoiar e promover a assistência médica e psicológica das portadoras de Endometriose em Portugal; Elaborar informação sobre todas as questões relacionadas com a Endometriose; Esclarecer dúvidas e prestar apoio presencial ou através de redes sociais e telefone; Promover o debate público e científico sobre a Endometriose; Realizar sessões de esclarecimento e workshops; Promover e divulgar a doença através de diversas atividades junto da população em geral e de instituições públicas e privadas; Elucidar a população e a classe médica relativamente às consequências físicas e psíquicas da doença na vida das suas portadoras, bem como de medidas a tomar e/ou desenvolver para tratamento físico e psicológico da doença; Criar uma linha telefónica para esclarecimento de dúvidas e apoio psicológico às portadoras de Endometriose; Representar as portadoras de Endometriose junto de instituições e agentes, particulares ou estatais; Celebrar parcerias, acordos e protocolos com entidades públicas e privadas para o tratamento da Endometriose; Colaborar com outros organismos nacionais e internacionais que tenham objetivos comuns. JV - Quais são as atividades desenvolvidas pela MulherEndo? SF – Desenvolvemos diversas actividades, dentro do que o nosso tempo e os nossos meios financeiros nos permitem. Fazemos sessões de esclarecimento em escolas e universidades, organizamos eventos de convívio entre portadoras, organizamos congressos com profissionais de saúde, participamos em programas televisivos e temos sido o rosto da organização da Worl Wide Endomarch um evento que se realiza mundialmente. JV - Nestes anos com a associação tem encontrado muitas mulheres que sofrem de Fibromialgia, juntamente com a Endometriose? SF - Não consigo quantificar, mas sim, existem alguns casos em que após o diagnóstico de Endometriose vem também o diagnóstico de Fibromialgia. JV - Sendo a Endometriose também uma doença invisível, como está a receptividade do povo português (incluindo profissionais de saúde) em relação à doença? SF - Felizmente o nosso trabalho já começa a mostrar frutos e não só a sociedade já começa a conhecer um pouco mais a doença como os profissionais de saúde também já sabem que a Endometriose é mesmo uma doença e não uma “modernice” como cheguei a ouvir. Contundo, acho que há ainda um longo caminho a percorrer pelos profissionais de saúde. Não chega saber que a doença existe, é preciso saber diagnostica-la e encaminhar as pacientes para os profissionais de saúde adequados. JV - Existem muitos médicos em Portugal especializados em Endometriose e também em fertilidade para estes casos? SF - Infelizmente não. Existem vários médicos a operar pacientes com Endometriose, mas a nossa experiência mostra-nos que nem todos estão devidamente preparados para o fazer. Especialistas mesmo, com provas dadas, nacional e internacionalmente são muito poucos. no que respeita à fertilidade é ainda mais alarmante, porque se continuam a fazer tratamentos de procriação medicamente assistida em pacientes com Endometriose, sem previamente se tratar da doença. Isto não só potencial a evolução da doença como pode inviabilizar os próprios tratamentos. JV - Em Portugal e no mundo estimam-se que quantas mulheres sofram de Endometriose? SF - A estimativa que costumamos partilhar é de 176 milhões de mulheres no mundo. Contundo este número já foi em larga escala ultrapassado uma vez que se verificou um aumento na percentagem de casos diagnosticados. Em Portugal não existem números sobre esta doença.
Contactos da MulherEndo –Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose
Site: mulherendo.pt Facebook: facebook.com/AssociacaoMulherEndo Telemóvel: 916 898 540 – Susana Fonseca – Dias úteis das 9h00 às 18h00 E-mail: [email protected] Agradecimentos Quero dar um agradecimento especial à Susana Fonseca, presidente da MulherEndo pela disponibilidade e prontidão em esclarecer as minhas dúvidas na elaboração do artigo, por responder às minhas questões e pelas imagens. Bem hajas! Agradeço também à sra Susana Nunes, por me ter colocado em contacto com a associação. Fontes: MulherEndo –Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose National Institutes of Health AboutHealth Gineco
1 Comment
Cristina brito
7/6/2017 10:49:33 pm
Olha eu aí! Eu tenho fibromialgia ,endometriose e rinite do tipo febre do feno.Dificilmente tenho um dia bom ou normal sem uma dor ou incomôdo ,e quando vem todo mundo de uma vez ?É de lascar
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Sobre as "Crónicas de Fibra"Originalmente este blog continha textos sobre Fibromialgia e não só, escritos pelas administradoras do site. CategoriasArquivos
September 2016
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