Tenho duas filhas, uma com 2 e outra com 9 anos. São duas meninas divertidas, simpáticas, inteligentes e felizes. São o meu orgulho e a minha luz nos dias em que o sol não brilha. São a minha razão de viver… Sim, sou uma mãe babada…e sou uma mãe portadora de fibromialgia… Aqui por casa a palavra Fibromialgia começou a ser ouvida regularmente desde que, há cerca de 1 ano, comecei a “trabalhar” como administradora da página e do grupoJovensPortadores de Fibromialgia – Portugal, no facebook. Certa altura, a minha filha mais velha, começou a fazer perguntas. Queria saber para que servia a página e os artigos que traduzo. Expliquei-lhe que serviam para ajudar as pessoas a perceber melhor uma doença chamada Fibromialgia. Ela olhou para mim e perguntou que doença era essa. Até então, sempre que tinha crises, dizia-lhe que se deviam a um problema que tinha na coluna. Nesse momento soube que tinha que lhe dizer o nome do “problema”. Concentrei-me para lhe contar o que entendi que deveria ser o mais adequado para a idade dela…sem me esquecer que não se contentaria com meias respostas… Expliquei-lhe que a Fibromialgia é uma doença que causa muitas dores nos músculos e por causa dessas dores as pessoas ficam muito cansadas e sem energia. Que nem todas as pessoas sentem as dores no mesmo sítio e que existem dias em que as dores são mais fortes. “É quando te dói a cabeça e tens de descansar, não é mãe?” “É sim querida.” “E porque tens essa doença? É contagiosa?” “Não, não é contagiosa. E não sei porque tenho Fibromialgia. Às vezes as pessoas têm uma doença e não sabem porquê.” “Hum, ok…E não te preocupes que eu ajudo-te sempre que precisares descansar.” Nesse dia a conversa ficou por ai…mas algo me dizia que voltaríamos a falar sobre a Fibromialgia… Esse dia chegou com uma pergunta arrasadora: “Mãe, eu também vou ter fibromialgia?” Quando ouvi esta pergunta, da boca da minha filha de nove anos, estremeci. O que responder? A verdade? Não, é muito nova para ter de lidar com uma preocupação dessas…Então minto…e daqui a uns anos se a Fibromialgia “lhe bater à porta”, vai-me dizer que não fui sincera com ela… O que fazer? Traduzo tantos artigos, e alguns sobre crianças, era suposto estar preparada não? Era suposto saber o que lhe responder… Mas não sabia…porque também não era suposto ela ter que lidar com esta doença. Nenhuma das minhas filhas… Após recuperar do choque inicial da pergunta, respirei fundo e disse-lhe: “olha amor, se dependesse de mim nem tu nem a mana ficariam doentes…nem uma constipação apanhavam! Se vais ter Fibromialgia ou outra doença não sei…Mas prometo-te que farei tudo mas tudo para que vocês sejam o mais saudáveis possíveis e muito felizes.” Ela sorriu e disse: “Eu sei mãe…”. Quando somos mães preparamo-nos para muitas coisas. Mas preparamo-nos acima de tudo para proteger os nossos filhos com todo o nosso ser. Mas estou ciente de que as probabilidades estão contra elas. Como se não bastasse serem mulheres, ainda são filhas de uma portadora de fibromialgia, o que acrescenta mais 28% à probabilidade de virem a ter de enfrentar a doença. Tenho a perfeita noção que existem muitas doenças graves, mesmo fatais, que podem afetar os nossos filhos e não temos qualquer tipo de controlo sobre as mesmas. Existem muitas crianças com condições médicas que tornam a fibromialgia num simples problema do foro reumatológico. Devia ter pensado nisso antes de as trazer ao mundo? Talvez…Mas nunca deixaria a Fibromialgia roubar aquilo para que nasci: ser mãe… Contudo sinto medo. Não posso evitar pensar: “Será que sim? Com que idade? Como a vão enfrentar?” Mas nada disto posso controlar. Posso é mostrar, através do meu comportamento e da maneira de como encaro e falo da doença, como não nos devemos render á doença. Posso mostrar que é possível sorrir, brincar, amar e celebrar a vida. E talvez assim as esteja a preparar…sem elas saberem… E enquanto a probabilidade não for 100%, a esperança é a última a morrer!
7 Comments
Rosilene Coelho
8/12/2015 07:29:39 pm
Fátima Figueiredo, é incrível como nos sentimos ligados as pessoas com FM, sinto uma ligação incrível e um desejo de aprender e partilhar novidades que descubro na net, na TV, com conhecidos e até mesmo parentes...atualmente deixei o cymbalta e tomo suco verde para reduzirem as dores 2x ao dia, estou me sentindo bem porem ainda não deu para iniciar o Pilates...=( uma coisa de cada vez =) Parabéns pelo trabalho!!!
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Clara Rosado
8/12/2015 07:30:11 pm
Fatima ter 49 anos fibromialgia já cerca de 14 anos,sua carta me emocionou muito principalmente plas pergtas da pequenina ,a minha já é adulta obrigada plo testemunho bj
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Célia Margarida Alexandre
8/12/2015 07:30:46 pm
Obrigada pelas suas sabias palavras, fiquei a saber mais uma coisinha que não sabia apesar de já ter a doença há 7 anos. Penso tenho um filho não sei o que lhe espera... Beijo.
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olga santos
8/7/2016 11:09:09 am
Bom dia , só no fim de ler o seu comentário é que me ocorreu que nunca tinha pensado se a fibromialgia seria hereditária. tenho uma filha com 10 anos e fiquei a pensar... podia indicar-me alguns sites sobre o facto de ser ou não hereditário ? desde já agradeço. já estou tão habituada a minha amiga... mais tem razão temos que saber preparar os filhos sem angustias porque o dia de amanhã não se conhece..... beijos
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APJOF
8/7/2016 11:42:16 am
Olga Santos, espero que ajude:
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Vera
2/10/2016 03:14:59 pm
Muito importante seu depoimento...Deus a abençoe
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patricia
5/10/2016 08:07:17 am
Ola . . . Esta historia bem que podia ser a minha . 2 filhas uma de 9 anos e outra de 2anos, na qual foi gerada com o tratamento para esta doença, que ainda me custa aceitar. E ja passei pela fase das perguntas, que por ser cedo demais para mim, pela negação ... fui dizendo que não, não podia ser e não iria ser .
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Sobre as "Crónicas de Fibra"Originalmente este blog continha textos sobre Fibromialgia e não só, escritos pelas administradoras do site. CategoriasArquivos
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