Já estamos em Maio… Um mês que me deixa melancólica… Para perceberem um porquê, convido-vos a fazerem comigo uma viagem no tempo. Quando eu tinha 17 anos fui diagnosticada com Fibromialgia. Antes de ser diagnosticada (em Novembro), nesse verão a minha saúde mudou completamente. Ou seja o que eu fazia o ano antes com 16, aos 17 era um esforço enorme. Tentei levar a minha vida normalmente e apesar do verão difícil fui para a escola. Para ir para a escola, tinha de ir de autocarro e era uma viagem de +/- 30 minutos, foi a primeira coisa que eu sentia mais dificuldade em fazer. Custava-me acordar de manhã cedo, custava estar um dia inteiro fora de casa, custava estar numa sala de aula, devido ao conforto das cadeiras e ao barulho dos colegas, etc… Comecei a ter dores que me deixavam incapacitada. A minha memória e capacidade cognitiva deixou de responder como antes. Tinha ataques de pânico que cada vez foram amplificando mais… E entrei em depressão. Não aguentei o ano lectivo até ao fim, tive de desistir. E esta história repetiu-se até aos meus 23 anos… Cada vez esses sintomas a amplificarem mais… Ataques de pânico cada vez mais violentos, dores cada vez mais fortes e esgotamento. Todos os anos eu matriculava-me e pensava “este ano vou conseguir”. Mas o meu corpo simplesmente estava contra mim e eu não conseguia. Estava a sentir-me cada vez mais doente. Tomei imensa medicação, forte demais para uma adolescente… E nunca senti melhorias… Só me adormeciam. A melhor forma de descrever a sensação desta situação, psicologicamente e fisicamente, é como se eu tivesse uma parede de betão enorme há minha frente e eu quero a todo o custo passar para o outro lado, mas não tenho outras hipóteses de caminho, então vou correndo contra essa parede todos os dias... Todos os dias fico mais deteriorada e desesperada. E a parede contínua intacta. É assim que ainda hoje me sinto. Aos 23 anos tomei uma decisão, que para mim foi das mais difíceis de sempre… Deixar de estudar… Eu sentia que não aguentava mais, então a minha ideia era parar 1 ano, deixar toda a medicação e fazer exercício físico. Foi o que fiz. Ainda hoje é super difícil para mim aceitar o facto de ter deixado de estudar. As consultas de psicologia ajudam-me imenso e estou um pouco melhor nesse aspecto, mas é complicado. Agora tenho 25 anos (a caminhar para os 26 este verão), ainda não acabei o 12º e ainda não pude voltar a estudar (entretanto surgiu-me um problema de saúde grave, que ainda hoje estou a tentar resolver). Para mim é muito difícil esta situação… Na nossa sociedade está muito implementada esta norma de que uma pessoa com uma certa idade tem de ir para a universidade, passado uns anos ter um emprego, depois casar e ter filhos. Não digo que pertenço à norma, mas há um grande peso e o que é certo, é que eu tinha e tenho um sonho. Mas por causa desta norma, fui descriminada, por familiares, médicos e até por professores… Ao ponto de eu até ter “medo” de ir para a escola em certos dias. Não é normal uma pessoa com 25 anos não ter o 12º e não estar a fazer nada da vida, compreendo isso. E eu sinto-me mal com isso, e é muito difícil para mim lidar com esta situação. Daí esta crónica e o mês de Maio… Em Maio começam as queimas das fitas… E eu fico sempre melancólica, porque penso “já podia ter terminado ou estar a terminar o meu curso”. É muito difícil para mim ver a que a minha adolescência foi roubada, que não pude seguir o caminho com os meus colegas, eu não pude ter uma vida normal. Ver os meus colegas e amigos a seguirem com a vida deles e eu aqui. Não tenho inveja de ninguém, eu sinto-me é fraca e falhada. E sei que agora não tenho capacidades para tirar um curso superior. Mas é um dos meus sonhos. Sinto que a minha vida é uma grande incógnita… Como será o meu futuro? Terei vida profissional? Conseguirei construir família? Etc. Não me venham com a conversa da força de vontade e do “olha a pessoa x conseguiu por isso tu também consegues”… Há aqui muita coisa em jogo (a maior parte não posso partilhar), o que é certo é que há vontade, mas há um grande medo de falhar e não me sinto em condições para me comprometer. Há ainda falta de apoio, interesse e incentivo por parte das pessoas que me rodeiam… Já para não falar na falta de respeito que há para com os meus problemas e falta de saúde…
Queria que sentissem um pouco de interesse em mim e que me “estendessem a mão”. Parem de me exigir que eu tenho de fazer isto ou aquilo, ou reagir de certa maneira. Parem de dizer que sou arrogante ou tenho mau feito, quando não o sou e estou simplesmente a dizer o que penso. Sinto-me completamente exausta tanto física como psicologicamente, já são muitos anos de sofrimento, e os últimos 2 tem sido demais. Sabem o que é conhecer pessoas novas e ficarem a olhar de lado para vocês quando respondem “neste momento não fazem nada”? Custa-me principalmente quando a minha afilhada (de 10 anos) me pergunta porque é que eu não estou na faculdade ou a trabalhar, e eu respondo que agora não posso, ela faz uma expressão de estranheza… Ver uma reacção destas de uma das pessoas que mais amo é muito difícil. Ainda tenho muito mais para dizer, mas as palavras falham-me e é difícil por em “papel” o que sinto, pois este assunto toca-me profundamente e para ser sincera já estou emocionada. Só agora ando a aceitar que tenho de me adaptar às circunstancias e ir arranjando novos sonhos. Aproveitar as pequenas coisas boas do dia. E dar valor a quem realmente esta comigo para o bem e para o mal, o resto não importa. Vou às consultas de psicologia, escrever estas crónicas e estar por detrás dos Jovens Portadores de Fibromialgia (Portugal) também me ajuda muito. Ainda tenho muito trabalho psicológico a fazer, mas acho que estou no caminho certo e sou muito bem acompanhada. Espero que as novas gerações sintam mais apoio, compreensão e tenham mais ajuda não só em casa, como na escola etc. Quero dar um agradecimento especial à pessoa que sem saber, me inspirou a escrever esta crónica. A minha amiga e colega administradora, Fátima F. Obrigada! Esta frase dela tocou-me aqui no ponto e senti necessidade de escrever esta crónica.
6 Comments
Maria Elisabete Vida
8/12/2015 09:49:22 pm
Olá Joana, li a tua crónica e fiquei tocada porque eu também sinto o mesmo. Oxalá consigas cumpriro teu sonho. Muitos beijinhos linda.
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Filomena Barbosa
8/12/2015 09:49:49 pm
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Joana Vicente
8/12/2015 09:50:25 pm
Força Filomena Barbosa Beijinhos e tudo de bom para si!
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Iris Neves
8/12/2015 09:50:54 pm
És linda minha borboleta e tens asas para voar qnd te sentires preparada! Adoro-te e sei q vais ultrapassar isso e o passado deixa-o lá no passado q é onde pertence estar! Sabes q estou spr ctg! Bjs grandes <3
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Joana Vicente
8/12/2015 09:51:37 pm
Obrigada Iris Neves :) gmdt <3 <3
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Maria Bento
28/9/2016 03:30:38 pm
Olá Joana...Não te sintas frustrada,porque nesta altura não estudas.
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Sobre as "Crónicas de Fibra"Originalmente este blog continha textos sobre Fibromialgia e não só, escritos pelas administradoras do site. CategoriasArquivos
September 2016
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