Vencedores do 4º concurso de escrita criativa, mensal da APJOF - Associação Portuguesa de Jovens com Fibromialgia. Se quiser participar no concurso do mês de Outubro, envie o seu texto até dia 20/09 para [email protected] Passava os dias deitada no sofá, o meu corpo estava mole e dorido, tão dorido como se um camião me tivesse atropelado. Não conseguia dormir de noite e quando o sono chegava, assim de repente, tinha tantos sonhos e pesadelos, parecia uma sonâmbula. As dores martirizavam a alma e o bom humor, não tinha consciência da chata que estava. Não conseguia aturar o meu corpo quanto mais os outros. Os outros não entendiam a dor nem a minha queixa…”Não queres é fazer nada”, “estás sempre cansada”, quantas vezes ouvi estas frases que faziam eco na minha cabeça. A cabeça estava longínqua e não reagia, até parecia que tinha alfinetes no corpo, em todo o sítio, nos glúteos, nas mãos, nas costas…tudo era dor e dor ao ponto de os meus calcanhares deitarem fogo, enquanto dormia. A concentração foi fatal, tinha brancas de memória e cheguei a trocar palavras e letras, parecia uma analfabeta e ninguém me compreendia Fui ao médico. Vivia numa base militar, o médico mandou fazer análises, exames, electrocardiogramas, raio X e outros tantos. Lúpus??? Talvez o diagnóstico fosse fácil. Não foi fácil, depois de tudo, não tinha nada. Senti-me impotente perante o meu corpo, até parecia que inventava uma doença…O médico virou-se para mim, naquela manhã de Setembro, onde o sol, ainda, dormia detrás nas nuvens teimosas do Arquipélago Açoriano, e muito calmo, deu o final diagnóstico: - “Acho que tens a doença nova, Fibromialgia – Fibro quê?” Que nome pomposo e difícil de entender e pronunciar. Fibromialgia Investigo factos históricos porque não investigar a minha “Doença”. Fiquei feliz com o que li, tanta coisa numa só. É mesmo uma coisa “fora do normal”, o problema é que o “fora de normal” dá dores em todo o lado e ainda acham que somos uns doridos e complicados. Hoje, vivo só. Divorciada ao fim de vinte e quatro anos. Vivo com a minha “companheira”, a minha sombra, dorme comigo e se levanta, para me dar bons dias. A minha companheira fibro obriga-me a tomar ADT, Paroxetina, Lyrica, Flexiban e tento relaxar, coisa que ainda não consigo. Visito, de vez em quando, a minha querida Dra. Inês Silva, reumatologista, que tem, sempre, uma palavra de ânimo. Vivo um dia de cada vez, trabalho com dificuldade e a fibro tem trazido novos problemas, que com fé e força vou superando. Apesar de tudo, somos especiais, porque mesmo com a dor a apertar e machucar, somos superiores. A Fibromialgia vive comigo na solidão, mas o peso que ela me provoca, faz com que seja uma mulher lutadora e mostro-lhe que nem a vejo, não lhe posso dar tréguas, apenas a posso sentir a querer magoar o meu corpo mas não a alma… De: Teresa Ribeiro - Setembro de 2016 Carta aberta ao meu desespero… Então? É hoje? É hoje que queres dizer chega e “atirar a toalha ao chão”? Eu sei, estás farta de te manteres positiva… Estás cansada, exausta…Já nem força tens para sorrir, pois não? Por ti estarias num canto, ou mesmo enroscada na cama, a chorar. Dói tudo…até respirar dói… Olhaste ao espelho e só vês Dor. Tristeza. Raiva. Angustia. Desilusão. Medo. Os teus olhos hoje não brilham. Bates com as mãos na parede e deixaste cair de joelhos no chão. Entre lágrimas de frustração, perguntas quando é que podes voltar a ser “normal”. Quando é que te vais voltar a sentir completa enquanto mulher, esposa, mãe, amiga… Achas-te fraca, diminuída, inútil e sentes-te sozinha… Agora volta a olhar para o espelho. Vai! Mas agora olha bem! Sabes quem é essa que vês? Sabes mesmo? Essa é aquela que luta há 14 anos contra a fibromialgia! Essa é aquela que, mesmo na altura mais escura e sem esperança não escolheu o caminho mais fácil e deu a volta por cima! E que volta! Tornou-se mais forte! Essa é aquela que procura ajudar os outros, mesmo quando por dentro está despedaçada! Essa é aquela que dá tudo para que a família esteja sempre em primeiro lugar! Essa é aquela que mesmo com todos os motivos para ficar amargurada com a vida prefere, todos os dias, sorrir e amar! Essa que vês ao espelho é uma mulher de garra! Que faz jus à memória de quem sempre acreditou, e acredita, nela. Essa que vês ao espelho nunca está sozinha! No seu sangue corre a força de uma linhagem de pessoas que lutaram e nunca desistiram! Essa que vês ao espelho é Uma Guerreira! E o seu percurso de vida não é para qualquer uma! Só para pessoas determinadas e de espirito inquebrável! Essa minha querida, essa és Tu! Sim Tu! Limpa as lágrimas! Amanhã, o dia de hoje, será apenas uma pedra no teu caminho. De: Alice Cruz - Setembro de 2016 Muitos parabéns às vencedoras do mês de Setembro!
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Sobre as "Crónicas de Fibra"Originalmente este blog continha textos sobre Fibromialgia e não só, escritos pelas administradoras do site. CategoriasArquivos
September 2016
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