Por várias vezes já fomos abordadas na nossa página, através de mensagem privada, e no nosso grupo, com questões sobre a gravidez. As portadoras de Fibromialgia podem engravidar? A Fibromialgia causa infertilidade? A Fibromialgia pode inviabilizar uma gravidez com sucesso? A Fibromialgia afeta o desenvolvimento do feto? Existem estudos que apontam para uma melhoria dos sintomas da Fibromialgia na gravidez…outros que pioram…mas são bem claros ao dizer que não causa infertilidade nem existe perigo para a mulher e para o feto, só devido à Fibromialgia. Contudo nunca podemos esquecer que mesmo nas mulheres saudáveis, e sem qualquer problema de saúde, a gravidez é um autêntico “mapa do tesouro”. Sabem como começa, o que as espera no final mas o percurso é um mistério. E não existem duas gravidezes iguais. Nesta crónica vou relatar de que forma a Fibromialgia afetou os meus dois “estados de graça”. Quando fiquei gravida pela primeira vez tinha o diagnóstico há dois anos. Uma gravidez planeada e muito desejada. Não estava a fazer qualquer tipo de medicação, apenas a tomar um suplemento de magnésio e a fazer fisioterapia. Quando fui ao obstetra pela primeira vez, referi que tinha Fibromialgia e Síndrome de Fadiga Crónica (SFC). E essa foi a única vez que falamos sobre isso. Também há 11 anos a informação era pouca e sinceramente não me preocupei em saber mais… Talvez devido ao facto de ter estado de baixa cerca de seis meses e meio, por motivos inerentes à gravidez (hiperémese gravídica, anemia e desmaios), não tive qualquer acréscimo de dores no que diz respeito á Fibromialgia. Por vezes tinha fortes dores lombares mas eram consideradas normais por estar em repouso. A minha filha nasceu saudável, após 29 horas de parto natural (sem qualquer tipo de anestesia), com 3.630 kg e 51 cm. O pós-parto foi muito doloroso. No dia em que tive alta, senti-me mal quando estava a sair do hospital. Diagnóstico: a Fadiga já estava num grau grave de exaustão. Foi-me recomendado repouso absoluto durante duas semanas…”nada de visitas, a família e os amigos que esperem” disse o médico. Confesso que olhei para ele e pensei que só podia estar a gozar comigo…queria que fizesse repouso absoluto, com uma recém-nascida, numa cidade onde não tinha família por perto???
A situação no entanto era completamente diferente. Estava medicada e tinha tiroidite. Consultei a minha médica para avaliar a situação. O problema da tiroide estava controlado sem medicação, mas com o evoluir da possível gravidez deveria verificar os níveis nas análises de rotina. Naquela altura estava a tomar três medicamentos, estando a fazer o “desmame” de um deles, o qual segundo ela, era perigoso, caso engravidasse naquela altura, para o feto. Então ficou acordado que só depois de ter passado dois meses de ter deixado o medicamento, iniciaria a minha nova etapa. Também me informou que iria deixar de tomar os outros dois medicamentos assim que estivesse grávida. Confesso que fiquei preocupada porque não sabia como a Fibromialgia me iria afetar sem eles. Mas como naquela altura não estava a trabalhar decidi que iria fazer tudo para evitar crises e esforços desnecessários. Dedicação total da família e amigos a combater tudo que pudesse acentuar as dores. Depois de ter cumprido o pedido da médica fiquei gravida passado três meses. Foi um misto de alegria e medo…Na semana seguinte fui à obstetra que confirmou a gravidez. Fiz questão de lhe dizer varias vezes que tinha Fibromialgia e expliquei-lhe como a síndrome me afetava. Relativamente à medicação que estava fazer naquele momento ela pediu-me para consultar a minha médica de forma a não tomar nada, principalmente no primeiro trimestre. Assim e depois de consultar a minha médica fiz o “desmame” em cinco dias. Os dois primeiros dias sem os medicamentos foram horrorosos. Além de uma grande má disposição não conseguia estar de pé. Quando me erguia parecia que me estavam a dar choques elétricos no corpo todo. Mas ultrapassada esta crise, os primeiros três meses correram sem problemas. Só que por mais que nos protejamos dos problemas parecem que eles conseguem vir sempre ter connosco. No início do segundo semestre surgiu um problema grave com dois familiares muito próximos. Tentei que isso não me afetasse mas foi impossível. Com 5 meses e meio tive que ir à médica, e com o apoio da obstetra retomei a medicação. Felizmente já existem medicamentos muito seguros para serem tomados na gravidez. A restante gravidez, excetuando o facto de ter desenvolvido hipotiroidismo novamente que foi logo controlado pela endocrinologista, correu bem, muito devido ao entusiasmo constante da minha filha pela chegada da mana. No último trimestre fiz questão de relembrar a obstetra que provavelmente precisaria de mais assistência devido à minha doença fazer com o que o meu sistema nervoso central processasse de forma errada a dor muscular, fazendo com que o botão da dor estivesse sempre ligado. No dia em que fazia 40 semanas a obstetra decidiu provocar-me o parto porque estava de serviço naquele dia e queria ser ela a fazê-lo. Dei entrada no hospital por volta das 13 horas. Em 15 minutos já estava com a ficha feita, de bata e com a médica a colocar-me no útero uma espécie de fita medicamentosa. Passado uns minutos comecei a sentir-me mal, um ardor enorme nas costas e sensação de desmaio. Perguntei à enfermeira se era normal e ela disse que não. “Boa só me faltava a sensibilidade química da Fibromialgia aparecer agora”. Às 13h45m estava com contrações de dois em dois minutos e dores que parecia que a minha cabeça ia rebentar e nem abrir os olhos eu conseguia…não era normal diziam…reposicionaram a fita mais para a entrada do útero mas as dores não abrandaram. Estando consciente da Fibromialgia, a obstetra chamou o anestesista para me dar a epidural. Inicialmente recusou por ser ainda muito cedo mas depois de ela lhe explicar o porquê ele concordou. Nesta altura tive medo de como o meu corpo iria reagir. Iria sentir-me mal devido á sensibilidade química? Estava bastante assustada. Felizmente correu bem, as dores desapareceram e assim se mantiveram até às 17 horas. A partir desse momento mais nenhum reforço conseguiu aliviar as dores. Colocaram medicação no meu soro e voltei a reagir mal. Não tinha contrações mas uma dor aguda excruciante constante. A minha filha nasceu às 19 horas e 20 minutos, por parto normal com o recurso a ventosas. Pesava 3.680 kg e 51.5 cm mas precisou de ser reanimada e de outros procedimentos invasivos e esteve na incubadora durante um dia e meio. Durante algum tempo pensei que a minha filha esteve em sofrimento por o meu corpo não ter respondido de forma eficaz á força que eu fazia…ou talvez a força não tivesse sido suficiente…ou tinha ficado exausta...mas vim a saber que ela tinha movido ligeiramente a cabeça e esse teria sido o verdadeiro motivo para a sua situação. Nas primeiras 24 horas após o parto tive duas quebras de tensão devido ao esforço. Mas depois a recuperação foi bastante boa comparando com a do primeiro parto. Mantive sempre a medicação o que me impediu de amamentar a minha filha. Não tive qualquer sinal de depressão pós-parto. Espero que o meu relato possa esclarecer alguma mulher que deseja ter um filho ou ser mãe novamente. Não há garantias de nada. Mas se nos informar-mos das situações que poderão decorrer, se o projeto não for do casal mas da família toda e dos amigos, se nunca nos esquecer-mos do que desejamos e que não existe nada nem ninguém que supere um beijo e um abraço de um filho, tudo é possível. Muitas mulheres dizem que foi depois da gravidez que a Fibromialgia piorou. Mas não foi a Fibromialgia que piorou. Foi o novo estilo de vida que fez os sintomas se acentuarem. Ser mãe é viver numa preocupação constante. É um esforço físico e psicológico até à idade em que os filhos adquirem alguma autonomia. Depois é um grande esforço físico para não dar-mos em malucas quando chega a adolescência…
7 Comments
Isabel Martins Loureiro
8/12/2015 07:22:28 pm
Obrigada pelo seu testemunho tão real. De facto, esta doença (condição?) manifesta-se de forma diferente de pessoa para pessoa, e tal como diz, de gravidez para gravidez.
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Maria Figueiredo
8/12/2015 07:23:07 pm
Agradeço as suas palavras! Sobre o meu 2º parto tb levantei mtas questões...Foi td mto traumatizante...Mas nasceu uma lutadora :).
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Sara E Nuno Rodrigues
8/12/2015 07:23:45 pm
Muito obrigada pelo seu testemunho.
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Maria Figueiredo
8/12/2015 07:24:12 pm
Força Kerida! Um dia de cada vez! E qdo conseguir dê noticias. Bjinhos
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S V
8/12/2015 07:24:43 pm
Obrigada pelo seu testemunho. É muito importante. <3
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Maria Figueiredo
8/12/2015 07:25:09 pm
<3
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Ana
1/7/2016 03:15:33 pm
Na minha gravidez tive uma melhora significativa da dor, mas nos 3 ultimos meses que a barriga pesava, eu tive muita dor nas costas toda! Depois para amanentar meus braços doíam tb! Mas eu faria tudo denovo para ter minha filhinha!!!
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Sobre as "Crónicas de Fibra"Originalmente este blog continha textos sobre Fibromialgia e não só, escritos pelas administradoras do site. CategoriasArquivos
September 2016
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