Tenho 42 anos e sofro de uma doença chamada Fibromialgia e apresento-vos o meu maior inimigo… EU. Trabalho de 2ª a Domingo todas semanas, tenho dois empregos por conta de outrem onde trabalho cerca de 61 horas semanais, existem dias que trabalho das 9h às 23h30m, outros trabalho das 9h às 18h30m e no fim-de-semana apenas trabalho das 19h às 23h30m, mas numa semana não há um único dia que não trabalhe fora. No lar, faço as compras, trato de lavar roupas e a alimentação da família está ao meu encargo, nas restantes tarefas tenho ajuda. Após isto tudo tento ter uma vida social que me permita não estar isolada do mundo e dos amigos, gostamos muito de receber pessoas em nossa casa e normalmente esta é a nossa primeira opção, talvez por estar no meu espaço, com a temperatura adequada e ainda a qualquer momento que seja preciso posso descansar. A Fibromialgia, a tal doença que referi inicialmente, muito resumidamente caracteriza-se por dores musculares constantes e é acompanhada por fadiga, também esta crónica. Seria difícil para uma pessoa que não sofra desta doença ter este ritmo, pois bem, tendo esta doença é terrível manter este ritmo. Eu iniciei esta crónica dizendo que sou o meu maior inimigo... Tentarei explicar melhor. Desde que tive que acrescentar ao meu emprego normal de 40 horas, um part-time para conseguir suportar as despesas, que comecei a ouvir a minha médica de família aconselhar-me a deixar um dos empregos, neste mesmo assunto juntaram-se os conselhos médicos das variadas especialidades médicas que me foram acompanhando. O que começou por uma necessidade absoluta, foi-se mantendo para manter a minha total independência financeira. Quer para alimentação quer para os estudos da minha filha. Hoje em dia penso muitas vezes se poderia deixar um dos empregos, em termos financeiros, provavelmente sim, mas pensar em deixar um dos empregos devido a uma doença, soa-me a desistência. Eu não desisto de nada e não posso, nem quero que uma doença dite o meu passo seguinte. Já deu para perceber que eu exijo o máximo de mim. Como em todas as doenças crónicas, há os momentos de altos e baixos, existem as alturas em que faço tudo e quase me esqueço das minhas dores e fadiga e depois existem aqueles dias em que mexer os olhos é algo muito cansativo e doloroso. Nestes dias redobro a exigência que tenho para comigo, não me permito parar. Levanto-me de manhã e apesar de tudo parecer estar contra, eu digo “Vai trabalhar”, quando gemo com dores penso “cala-te e mexe-te, vais melhorar”. Todo o ser humano necessita de um período de descanso, pois bem eu tenho alturas que não durmo sequer, mas não deixo que isso me impeça de cumprir os meus compromissos com as entidades que me empregam. Felizmente nos meus dois empregos por vezes detectam que não estou nada bem e mandam-me para casa descansar. Muitos são os dias que me levanto de manhã e sei que não devo ir trabalhar, que o meu corpo está demasiado cansado e esgotado e penso para comigo “Não sejas preguiçosa”. Muitos são os dias que termino o meu trabalho às 18h30m já sem forças para me dirigir para o part-time e volto a pensar para comigo “Não desistas, não sejas fraca” Alguns são os dias em penso hoje vou dar folga ao meu corpo e meto baixa, mas desisto da ideia, talvez por receio de incompreensão, não sei bem, não perco muito tempo a pensar nesta desistência. Poucos são os dias que atiro a toalha ao chão e vou às urgências para me aliviar as dores que já não passam com a medicação normal (que já de si é bem forte.) Raríssimos são os dias que permito que o corpo descanse e vou ao médico e deixo que este me passe a tal baixa médica. Na realidade sempre afirmei que não sofro com a incompreensão alheia, que nunca me chamaram de preguiçosa, que nunca me recriminaram e é a mais pura verdade. Nunca permiti que tal acontecesse, quando uma única vez tentaram usar esta doença contra mim, eu ripostei de imediato e agi, preveni situações semelhantes no futuro. Tal como comecei, assim termino, o maior inimigo que tenho sou eu mesma, sou eu que me recrimino, sou eu que me julgo, sou eu que me permito exigir demais de mim mesma. O que fazer quando o nosso maior inimigo somos nós mesmos????
8 Comments
Olga ferreira
13/1/2016 11:59:11 pm
Tal e qual . Faço quase , quase o mesmo. Parabéns .
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Ana Paula Neto
14/1/2016 12:29:22 am
Como te entendo Eva! Também sou a maior inimiga de mim mesma! Já passei tantas noites sem dormir para terminar o trabalho ( contabilidade) porque quando paro para dormir depois custa-me muito a retomar o ritmo ao acordar e então opto por não dormir! Mas, como eu já passei os teus 42 anos.... já vou nos 51, ultimamente já tenho tentado ser a minha maior amiga! Já não me sinto tão escrava do trabalho,pelo menos do domestico! Se não posso passar a roupa como passava, dobro apenas e só passo o essencial! etc! Tenta também tu seres a tua maior amiga e abranda o teu ritmo de trabalho! Admiro a tua força e a tua energia mas acho que deves abrandar esse ritmo louco de trabalho! Bjs! <3
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Eva
14/1/2016 12:37:05 am
Obrigado 💜
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Conceição Cardoso
15/1/2016 12:11:01 pm
Olá Eva,
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Eva
16/1/2016 12:20:36 am
Obrigado Conceição 💜
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Berta Ferreira
16/1/2016 01:23:52 am
Li a tua crónica e pensei logo em ''dar-te na cabeça'' por trabalhares tantas horas, por saberes que tens uma doença crónica e que a evolução dela também depende de ti,mas não o vou fazer, apenas te digo para fazeres sempre o que achares que é o melhor para ti, para fazeres sempre e em primeiro lugar aquilo que te deixa mais feliz, para seguires sempre o que o teu coração diz, e assim sim, serás sempre tu própria e estarás certa que deste o teu melhor!
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Eva
25/1/2016 03:26:24 am
Dar me na cabeça não resulta 😉 Beijinhos 💜
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aurora gaspar
20/10/2016 03:51:56 pm
b as ferias tenho que aguentar! no dia 31 de julho pensei e disseorboleta, eu tambem fazia muitas horas, na limpeza de bancos, fabricas, e algumas casas! em junho do ano passado andava a trabalhar 18 horas por dia! começei a sentir-me muito mal! e disse, ateque enfim ferias! so tive 1 dia estou de baixa a 1 ano e 5 meses! depressao gravissima! ( com amnesia) so sentir AR em metade do cerebro! desmaio e caio muito! hoje e so tonturas! mas sorrio,e digo mais 1 dia! ja fui mandada reformar por causa da Fibromialgia! ja fui a junta medica , espero a carta para a reforma, fiz 57 anos no dia 16 de Outubro, faltaram as forças nas pernas, cai e acho que parti o dedo mindinho amanha la vou outra vez ao medico de familia, para dar a baixa ! nunca mais posso trabalhar! mas estou viva! antes quero a minha diabetes a quase 52 anos ,que 14 de fibromialgia! esta noite foi so pesadelos, e insonias!mas somos todas as Borboletas umas GUERREIRAS! se por acaso tiver palavras juntas ou erros, peço desculpa! mas e devido a depressao!!
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Sobre as "Crónicas de Fibra"Originalmente este blog continha textos sobre Fibromialgia e não só, escritos pelas administradoras do site. CategoriasArquivos
September 2016
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