Foi-me proposto um desafio para falar sobre as minhas dores. Quem me nomeou foi uma pessoa que eu não conheço, mas que me têm ouvido. Que entende e compreende todas as minhas dores, tem sido uma honra falar com ela, encontro paz nas suas palavras e isso me dá paz. Não a conheço pessoalmente, mas sei que é uma pessoa de bem e posso confiar nela, um dia espero e quero poder conhecê-la pessoalmente. Esta grande Senhora sabe o que sinto, pois ela própria é uma guerreira, tem sido o “meu anjinho da guarda”, ela própria está a passar pelo mesmo. Ajudou a formar uma Associação de Pessoas com Dor, para poder ajudar outras pessoas que estão na mesma situação que nós (a precisar de compreensão) e de como nós nos sentimos todos os dias.
No momento da minha dor, penso em toda a esperança do mundo, guardada em mim, segundos depois vou ao fundo, porque às vezes é difícil seguir um caminho, um caminho sem saída, escuro e sentir as minhas dores frágeis para suportar o peso do meu corpo… Estou a aprender a lutar contra essas dores, a ser uma guerreira e não me ir abaixo com o que os outros irão dizer ou falar. O que me interessa mesmo são as pessoas que estão a meu lado e que juntas seguimos um caminho. As dores estão a ensinar-me a lidar com todas as barreiras da vida. Barreiras psicológicas, emocionais, sociais, afetivas e até barreiras na mobilidade e no desempenho das minhas funções do dia-a-dia. Eu ainda estou a aprender a lidar com este “problema”, com os obstáculos que as dores trazem agregados com elas, o que importa mesmo é que tenho de passar por eles, chorando, sorrindo ou assim-assim. Tento da melhor maneira me abstrair destas dores: Amar, Sorrir, Vencer, ter Fé, Esperança, ter persistência, positividade e muita paciência… E é isso, eu estou a tentar. Estou a tentar vencer esta etapa da minha vida, lutando. Estou ainda a colocar a minha fé acima de todos os obstáculos, mesmo dos obstáculos que ainda estão para vir e seguir em frente no meu caminho. Preciso de ter coragem para me levantar e seguir em frente, sei que vou conseguir. Todos os dias quando me levanto as minhas dores são horríveis. Viver diariamente com elas é uma luta constante, lutamos uma com a outra, neste momento ela ainda me vence todos os dias. Mas um dia com toda a minha fé e esperança irei vencer e rir-me dela e aí não haverá mais luta uma com a outra. Pois irei aprender a lidar com elas e elas comigo. Neste momento somos ainda umas “estranhas” uma da outra. Um dia direi “bem alto”, sou mais forte que vocês e venci-vos. Quando ando mais enervada, os meus dias são desesperantes e dolorosos, pois a minha dor torna-se mortífera. Quando estou mais em baixo, vou para o meu quarto. O desespero toma conta de mim e chorar é uma das únicas maneiras para exprimir o que estou a sentir e de relaxar só assim me consigo sentir um pouco mais aliviada. Prefiro chorar sozinha na solidão do meu quarto para que a minha família não me veja triste e angustiada com as minhas terríveis dores. Quando nem a chorar me consigo abstrair utilizo uma outra forma para descomprimir. E é nessas alturas agarro numa folha e numa caneta e começo a escrever e a escrever. Escrevo tudo o que vai no meu coração, na minha alma, escrevo sobre sentimentos e sobre as minhas dores. Escrever é uma das coisas que me dá mais prazer. Tento lutar, distrair-me para que elas (dores) ”não pensem” que sou fraca e que não consigo aguentá-las. Apesar de ter dias cinzentos, ainda tenho uma vida pela frente e bons momentos junto de quem mais amo. Tenho um pequeno príncipe (4 aninhos, quase a fazer os 5) que precisa ainda de mim, por ele levanto-me todos os dias. Tenho algumas pessoas da família que me entendem e apoiam. Tenho dias que penso, será que vou voltar a ser EU novamente? Tenho esse direito, tenho direito a aceitar o que tenho e como sou. Esta luta constante faz-me ficar exausta e isso refletisse em tudo. Muitas vezes tenho que parar um pouco para depois retomar o que estava a fazer ou a dizer com calma. Ultimamente tive de me adaptar a esta nova rotina, que ainda não esta estabelecida no meu dia-a-dia, era uma pessoa bastante ativa e assim de repente ”o mundo desaba”, uma pessoa que adora fazer limpezas, arrumar a casa, cozinhar…ainda não consegui “gerir” e fazer as” pazes” com esta nova etapa, que me assombra todos os dias. Continuo a fazer tudo de uma vez como fazia dantes e depois claro ao fim do dia sinto-me “um fardo” e “horrivelmente”, faço mais esforços e claro o corpo sente-se (ainda não aprendi a lidar com isso),mas sei que felizmente um dia será tudo diferente, haverá uma grande mudança nas minhas atitudes perante estas situações. Gostava e sei que vou conseguir gerir o meu corpo e com que ele me “deixe” fazer a minha vida normalmente. Ainda estou a aprender a lidar com o meu corpo, como funciona, que nem sempre é fácil. O que mais me custa no meu dia-a-dia é os momentos de crise. Eu ainda não consegui prevê-las acho que não irei conseguir prevê-las, sou uma pessoa que gosta de controlar tudo de uma só vez. Todos os dias olho-me ao espelho e vejo-me como um “lixo” … Quando me sinto assim só tenho vontade de fugir por algum tempo. Sinto-me cansada de estar cansada, porque estar cansada é cansativo. Minha Força ou Coragem? Muitas vezes não sei avaliar o que realmente necessito: se a minha força ou a coragem… Existem momentos que preciso das duas. É preciso ter força para ser firme, mas é preciso coragem para não “vingar”. É preciso ter força para ganhar uma guerra, mas é preciso coragem para não me render. É preciso ter força para dar certo, mas é preciso coragem para admitir as minhas dúvidas ou os meus erros. É preciso de ter força para esconder os meus próprios males, mas é preciso coragem para demonstra-los. É preciso ter força para fazer tudo sozinha, mas é preciso coragem para pedir ajuda. Parece fácil? Alguma pessoa vem-me sorrindo, mas não sabem as dores que eu sinto. As pessoas perguntam-me como estás? E eu com uma lágrima no olho, cheia de dores, mas sem a derramar uma lágrima para que vejam, digo está tudo bem, vou indo um dia de cada vez… As pessoas falam e comentam, deviam sentir todas as nossas dores, nem que seja 5 minutos, para nos entenderem o que nós sentimos todos os dias. Perguntam não vais trabalhar? Elas não conseguem entender-nos que não conseguimos trabalhar em trabalhos de grandes esforços como antes, não é porque seja preguiçosa, o meu cansaço, as minhas dores são horríveis, não aguento trabalhos esforçados. Infelizmente tenho de me sujeitar e a ajustar a minha vida consoante o meu corpo. As pessoas pesam que é fácil, mas é bastante complicado de gerir tudo. Essas que me entram pelo meu corpo como “facas” ou “agulhas” Tudo se torna mais difícil de gerir, quando se tem uma criança em casa. Tenho dias que só me apetece estar fechada no meu canto, sem ouvir ninguém, mas tenho de pensar nele, pois tenho outro desafio cuidar dele. E penso parece fácil de o fazer, e de dizer, mas não o é… Sei que irei sair destes sentimentos ruins que vem da minha cabeça, e conseguir geri-los da melhor forma…espero eu… O meu filho ainda não entende bem o que se passa, tento não demonstrar as minhas fragilidades ao pé dele, nem como me sinto, tento abstrai-lo fazendo atividades um com o outro e quando me sinto mais cansada explico-lhe que temos de parar um pouco e voltamos mais tarde a fazer os jogos preferidos dele, entre outras atividades que costumamos fazer habitualmente. Eu às vezes digo a mãe tem dores e ele muito sério para mim: Mãe vai descansar o pai faz o resto das coisas. São estas palavras de amor e carinho que me dão mais força, para continuar a lutar, por ele, por mim e pela minha família. Todos os dias tenho de tratar dele, de mim, da casa. Mas para eu levantar-me é um grande desafio bastante grande, parece que não dormir tem dias de noite conto as horas todas), há dias que não tenho posição para dormir. Aderi a alguns grupos nas redes sociais para tentar entender, descobrir, falar, entender certas coisas sobres as dores e pesquisar sobre vários temas. O meu médico de família disse-me que tinha todos os sintomas para ter Fibromialgia, pois não tenho só dores no corpo, também tenho outros sintomas (recentemente estive uma grande anemia, na qual estive de levar ferro na veia no (Hospital de Évora), e ainda nas análises que fiz deu positivo nas doenças autoimunes existem um grande grupo delas), neste momento infelizmente não sei qual tenho, pois o meu médico de família enviou um pedido para uma consulta de Medicina Interna por causa de saber o que se passa e qual a (doença autoimune tenho), estou a tomar uma medicação dada por ele que não é definitiva claro, tenho dias que essa medicação já não me faz nada. E também marcou para uma consulta de psiquiatria. Tenho crises de depressão e ansiedade (estas crises de depressão não são só de agora, já estive). Ando muito ansiosa pela consulta (que será em breve). Ainda estou naquele processo que ainda não fiz tréguas com as minhas dores, porque como ainda não tenho um diagnóstico concreto sinto-me ainda pior. Já algum tempo o meu braço esquerdo até à mão ficam com rigidez, inchados e dormentes, mal sinto o braço, o lado todo esquerdo do meu corpo é só dor, e nos restantes pontos do corpo. A minha cabeça aparece que está vazia, sem nada lá dentro, um vazio constante. Todas as horas do dia o meu corpo pede-me para me ir deitar, mas não posso, tenho de o contrariar, abstrair-me e ir fazer outras coisas, ocupar-me. Tenho de tentar-me mexer mesmo estando com as dores. A minha realidade é esta por enquanto ainda não tenho um diagnóstico concreto do que tenho realmente, só sei que estes sintomas todos não são normais, existe algo de errado, o cansaço que não abala, não durmo em condições. Sinto-me cansada, desmotivada de esperar por uma solução. Sinto-me como o meu chão que me foge dos meus pés. Fiquei recentemente desempregada, mas sei e vou conseguir arranjar algo ajustável a mim. Faço de tudo para me sentir mais aliviada e paro um pouco e penso o quanto sou forte e não acredito que o sou…e na minha impotência. Estive mesmo de pedir ajuda na qual não estava a crer aceitar essa ajuda, precisei de assumir perante mim mesma que precisava mesmo dessa ajuda. Levei algum tempo a digerir, pois pensava que ao pedir ajuda, era uma fraca e que tudo iria passar mesmo sem nenhuma ajuda. Ainda não aprendi a definir e a organizar as minhas prioridades. Espero vir um dia conseguir fazer isto tudo, pois ainda não consegui, mas sei que sou mais forte do que penso e vou vencer, pois sou uma Guerreira. Sinto-me” culpada” por estar assim e sentir-me assim. Um dia disseram-me que tinha um dom, mas esse dom ainda não consegui identificar. Às vezes meto-me a pensar será que a minha própria história de vida e as minhas feridas terá a ver com esse dom? Como o posso entender? Essas dores aparecem quando estou mais sensível a essas feridas e dores, sinto mais dores emocionais com mais intensidade. Assim, poderei perceber que existem vários dons diferentes em mim. Sinto-me Forte há minha Dor, mas tenho de seguir em frente apesar de senti-la todos os dias. Liliana Ramalho 7 de Setembro 2017
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July 2023
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