Nesta altura, estamos todos com o coração apertadinho. Espero que se encontrem bem. Decidi contar-vos, de forma muito resumida, a minha estória. Senti que chegava a altura de poder ajudar alguém. Lembro-me de ler vários testemunhos para me libertar do peso do diagnóstico. Era, ainda, uma menina. Tinha tantos sonhos e sorrisos quando aquelas dores começaram a
aparecer. Incomodavam, caramba. Era nadadora com uma carreira promissora, dançava ballet, corria e fazia asneiras. Respirava força. No ballet, a professora, antes de começar a aula, ligava-me os tornozelos. Ajudava. Pouco tempo depois, guardei todas as fotografias no meu caderno mais bonito. Queria perder-me no azul do mar, nadar era a minha grande paixão que, entre competições e lesões, ficou gravada nas medalhas. Já percorria alguns médicos. Senti o olhar da dúvida de alguns e o desinteresse de outros. Decidi desenhar a minha árvore da vida. Eu precisava de construir algo mais. Cheguei a duvidar do que sentia. Não conseguia aguentar mais os olhares que me tocavam. Fiz as malas e voei. Chorei muito. Lembro-me que houve dias que não consegui andar. Doía muito. Mas, quando amanhecia eu voltava a tentar e a tentar até conseguir um passo. Tinha uma vida bastante veloz quando o meu corpo começou, aos poucos, a pedir socorro. Tinha dois empregos, trabalha sete dias por semana e uma insónia quase permanente. Procurei ajuda. Foi naquele consultório pequeno que o diagnóstico chegou. Confesso, foi o travão que precisava. Eu tinha-me desligado do meu corpo, recusei-me a aceitar que tinha dores, vivia intensamente e a um ritmo bastante alucinante. Foi nesse dia que a minha mudança começou. Durante algum tempo eu não conseguia dizer em voz alta que tinha uma doença invisível, ou pelo menos para alguns é dessa forma. Como é que eu digo alguém que não consigo usar um par de calças porque me incomoda? Como é que vou explicar que se estiver ao sol muito tempo incho? Ou, simplesmente hoje passou um camião por cima de mim ? Tive medo. E, sempre que falava estava a dar vida à minha condição. Aos poucos fui conseguindo. Um dia decidi experimentar pilares clínico-tinha sido uma recomendação do médico- e procurei a fisioterapeuta com as melhores referências. Naquele dia encontrei uma pessoa luz, o meu pequeno anjo. Entrei no consultório reticente e com pouca vontade -nós habituamo-nos rápido a viver com alguma pena de nós- e recebi o olhar mais protetor de sempre. Acredito que cuidará sempre de mim. Hoje sei que não mereço menos do que viver de forma digna. Sou muito apaixonada pelo que faço -sou vendedora- e só se consegue uma reinvenção diária quando trabalhamos com as melhores pessoas. Nos dias menos bons elas oferecem-me a mão, estamos juntas. Encontrei, ao longo dos meus passos boas pessoas. Abracei o homem da minha vida há 5 anos. Ele também teve de fazer o seu processo de aceitação. Redefinimos os nossos objetivos, continuamos a sonhar... Podemos fazer mais devagar desde que não desistamos. Cruzei-me com amigos especiais. São a minha família de coração. No meio seio mais íntimo, optei por começar a falar das situações de uma forma natural. Deixei de camuflar os meus dias. Decidi não fazer fretes. Se hoje dói ou estou cansada , então é o meu momento para descansar. A fibromialgia é uma condição que faz parte de nós, se nós a aceitamos então os outros devem fazê-lo. Para muitos, eu sei, que é uma barreira enorme. E, parte-me o coração que o caminho seja muito solitário. Ninguém merece. Nós não somos menos. Nós temos dores todos os dias. Nós dormimos mal. Nós temos memória de peixe. Nem sempre conseguimos limpar a casa em menos de 5 dias... E, ainda, alguns são mães e pais, somos pessoas com muitos sonhos, temos um sorriso para oferecer e nós , no fundo, somos borboletas a desabrochar todos os dias. E, quando estiver muito difícil vale a pena lembrarmo-nos que nalgum momento nós já fizemos a diferença no dia de alguém. Um abraço bem apertadinho para cada um de vocês. Patrícia, 27anos, Viana do Castelo Envie também o seu testemunho para: [email protected]
2 Comentários
Anonimo
26/6/2020 10:21:56 am
Bom dia,a dez anos que ando perdida a ser tratada em médicos de auto imunes em psiquiatria, psicologia, neurologia,gastro e já chega. Ate hoje a medica de auto imune não me sabe dar uma resposta a dizer e isto
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Inacia Mendes
14/6/2022 08:23:10 pm
Parabéns pelo lindo testemunho.
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July 2023
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